quinta-feira, 20 de agosto de 2009

MARINA DEIXA O PT

agosto 19, 2009
Em carta, Marina Silva comunica a Berzoini sua saída do PT
Altino Machado às 11:58 am

A senadora Marina Silva já se desligou do PT. Em carta enviada na manhã desta quarta-feira, 19, ao presidente do partido, Ricardo Berzoini, a ex-seringueira e ex-ministra do Meio Ambiente comunicou a decisão:

- Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Segue a carta na íntegra:

“Brasília, 19 de agosto de 2009

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil – com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais – é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Saudações fraternas,

Marina Silva”

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

QUEM SÃO OS SOLDADOS DA BORRACHA

A herança deixada pelos soldados da borracha
Nos anos 40 do século passado, um grande contingente de nordestinos foi trabalhar na coleta do látex nos seringais da Amazônia. Era a época da Segunda Guerra Mundial e eles foram chamados de soldados da borracha.

A segunda parte da viagem do Globo Rural pelo Rio Negro conta como vivem os filhos e netos daqueles seringueiros. Essa é mais uma reportagem especial do Projeto Globo Amazônia.

A expedição sai de Barcelos, município que fica a 400 quilômetros de Manaus. O grupo sobe o Rio Negro rumo noroeste, na direção da fronteira com a Venezuela. O barco que leva a equipe funciona como uma casa. Nele irão navegar nos próximos cinco dias, até encontrar as comunidades ribeirinhas que vivem da piaçaba.

Não é preciso nem descer do barco para encontrar os órfãos da borracha. O comandante, o Mamá, nasceu num seringal e deixou no lugar uma triste lembrança. “Meu avô morreu com picada de cobra. Estava cortando seringa. A jararaca mordeu ele. Ele morreu nesse rio”, contou.

Foi em um dos trechos do rio que o grupo conheceu uma testemunha viva desta época. É o seu Olavo Bento, de 78 anos. Aposentado como soldado da borracha, ele mora com os filhos e ganha dois salários mínimos por mês. Ele ia às pressas para a roça que cultiva no antigo seringal. Ele recebeu uma notícia muito ruim.

“Quando eu cheguei minhas vizinhas disseram que eu iria ter muita raiva. Elas foram ao castanhal e passaram na minha roça. A banana e o abacaxi estavam muito bonitos, mas o bicho comeu toda a roça de mandioca”, lamentou seu Olavo.

O seu Olavo estava ansioso para chegar à roça e espalhar as iscas de veneno que comprou na cidade, antes que as formigas acabassem com o que sobrou. Mas, a pedido da equipe, fez um desvio no igapó, onde antigamente, na época da seca, extraia muita borracha. As marcas dos cortes ainda continuam visíveis nas cascas das árvores.

Então, vamos relembrar um pouco do que foram os dois grandes ciclos de ouro da borracha na Amazônia.

No final do século 19, Manaus, a capital do Estado do Amazonas, era a cidade mais desenvolvida do país. As construções antigas do largo de São Sebastião são um testemunho desta época. A obra mais importante é o Teatro Amazonas, símbolo do ciclo de ouro da borracha no Brasil. É uma história contada na literatura, na música, no teatro, no cinema e mais recentemente na minissérie Amazônia, da Rede Globo.

Na época a Amazônia respondia por 40% do total das exportações do país. Toda a riqueza vinha da floresta, principalmente da seringueira, árvore nativa da Amazônia, também chamada de “a vaca leiteira da selva”.

Mas enquanto os barões da borracha contavam vantagens e se divertiam nos salões, sementes das seringueiras da Amazônia eram contrabandeadas para a Inglaterra, onde foram pesquisadas e depois usadas na implantação dos grandes seringais da Malásia.

Com a chegada da borracha cultivada pela Malásia ao mercado mundial em 1912, os seringais brasileiros foram à falência. Foi um duro golpe. Mas houve uma retomada durante a II Guerra Mundial, quando os japoneses invadiram os seringais da Malásia.

Sem ter onde recorrer, os Estados Unidos resolveram financiar a reativação dos seringais da Amazônia. O episódio marca o início do segundo ciclo da borracha.

Getúlio Vargas criou então a figura dos soldados da borracha, recrutados entre os nordestinos, vítimas da grande seca do início dos anos 40. Milhares de famílias deixaram o inferno da seca para enfrentar a selva e extrair o látex.

Mas tudo não passou de uma grande ilusão. Logo que chegaram à selva, foram escravizados pelos coronéis de barranco que pagavam o látex extraído por eles com mantimentos que custavam o olho da cara.

O segundo ciclo da borracha durou até o final da guerra. Depois, os seringais foram abandonados novamente. A história do seu Olavo resume muito bem o que acontece hoje com os órfãos da borracha. Eles herdaram os seringais abandonados, mas não conseguiram mudar de vida.

“O homem que tira o produto da mata, nunca sobra nada. O atravessador é quem ganha dinheiro”, falou seu Olavo.

Os órfãos da borracha vivem hoje da piaçaba ou piaçava, uma palmeira nativa da região usada na fabricação de vassouras. Mas na época da borracha tinha muito valor porque era usada na fabricação de cordas de navios. No lugar onde vive o seu Olavo as palmeiras de piaçaba são muito raras. O povo do lugar vive da pesca e de pequenas roças. A lavoura dele fica na clareira. No chão se vê os troncos das árvores derrubadas no machado e nem sinal das mandiocas. As formigas comeram tudo. Agora, só resta replantar novamente.

Alonildo, o filho mais novo do seu Olavo, estava só de passagem. Contrariando o conselho do pai, ele prefere continuar no extrativismo. É piaçabeiro. Vive no meio da floresta.

“Eu espero melhorar de vida. Eu não quero para os meus filhos o que estou passando”, falou seu Alonildo.

O seu Olavo não quer deixar a vida dura do extrativismo de herança para o filho. Ele gostaria que o filho se interessasse mais pela agricultura.

De volta a sua casa, o seu Olavo se despede dos netinhos. Enquanto isso, a mulher do Alonildo já arruma a mudança para seguir junto com ele até os piaçabais onde vão passar seis meses trabalhando na colheita. O porquinho do mato também vai. É o bichinho de estimação deles.

A família sobe o rio. No barquinho coberto de palha eles viajam três dias. “Antes de eu me casar, nunca tinha feito nenhuma aventura desse tipo. Me agoniou muito, principalmente por causa das crianças”, disse Vanderlice, mulher do seu Alonildo.

Globo Rural

400 CHEGAM A PANDO PARA SEREM ASSENTADOS

O plano de assentamento humano no departamento de Pando, na fronteira com o o Estado do Acre, idealizado pelo governo central da Bolívia é um fato.

Neste fim de semana chegaram os primeiros 400 colonos a Cobija e, imediatamente, foram levados até à zona de Santa Rosa do Abuná, informou o vice-ministro de terras,Alejandro Almaraz, que coordena pessoalmente a ação.

A medida se desenvolveu sem conflito, em que pese o rechaço dos opositores da região à medida do governo Evo Morales, encabeçado pelo Comitê Civico, tendo à frente Eva Gonzales.

O transporte dos camponeses do ocidente do país para a Amazônia boliviana está sendo feito de avião. A região onde são provenientes os primeiros trabalhadores é Chapare.